segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Titãs e seu papo cabeça...dinossauro.

Para comemorar os primeiros cem acessos do blog, esse post vai ser sobre um dos maiores clássicos do rock nacional: Cabeça Dinossauro, álbum de 1986 dos Titãs.
É claro que hoje os Titãs estão muito aquém de sua melhor forma. Mas não é o caso deste disco. Ele marca o início do processo de consolidação dos Titãs como uma das maiores bandas do Brasil.



Não lembro a primeira vez que ouvi as músicas deste álbum. Mas lembro que com 7 pra 8 anos, Polícia e Família já não me eram desconhecidas. São dois dos clássicos contidos aqui. E aliás, a quantidade de clássicos é tanta que um ouvinte desavisado, num primeiro momento, pode achar que se trata de uma coletânea. Quase todas as faixas tornaram-se hits radiofônicos ou clipes do Fantástico. Nove das treze faixas entraram na coletânea 84-94. E duas das que ficaram de fora poderiam muito bem ter sido incluídas, AA-UU, que o Sergio Britto apresentou no MTV ao vivo como a música mais idiota que eles já fizeram, e Estado Violência, composta por Charles Gavin e que, assim como Polícia, relembra o episódio da prisão de Tony Belloto e Arnaldo Antunes.


O foco do álbum são as instituições. Família, igreja, polícia, estado. As vezes tratadas de forma irônica, as vezes contestatória, as vezes até agressiva.
No clipe de Cabeça Dinossauro

A faixa título, Cabeça Dinossauro, faz o processo de composição parecer tão fácil... dois titãs batucavam e cantarolavam a melodia primitiva durante a noite, no ônibus da turnê. Foram acordando os colegas um a um, até que alguém grita algo como: "Cala a boca seus CABEÇA...DINOSSAUROS". Alguém ainda inclui um PANÇA DE MAMUTE e por fim concluem que os notívagos batuqueiros tem um tremendo de um ESPÍRITO DE PORCO. Fácil assim. A base da música é uma adaptação do "Cerimonial para afugentar os maus espíritos" dos índios do Xingu, e o arranjo colocado sobre ela é, nas palavras do falecido Marcelo Fromer, bastante original.

AA-UU, como dito acima, foi taxada de idiota pelo seu próprio crooner. Mas sua letra é mais do que isso. Ela trata sobre a sensação de estar perdendo a sanidade. É um tema recorrente no rock, e aqui ele foi colocado de forma bem direta e bem sintética.
A música Igreja quase provocou um racha na banda. Arnaldo e Paulo Miklos retiravam-se do palco durante a execução da música. Achavam que a letra tocava de forma agressiva num tema delicado. Após algum tempo acabaram se mudando de opinião.
Polícia é praticamente um punk rock. O Sepultura fez uma versão trash desta canção e a partir daí Sergio Britto começou a usar um vocal gutural nos shows.
Sobre o mesmo tema da música anterior, a prisão de Tony e Arnaldo, Estado Violência vai por um outro caminho, mais pop, mas não menos contestador. A seguir o enorme contraste que é A Face Do Destruidor. Quase um grindcore, talvez um trash punk(me perdoem os fãs destes gêneros). A batida rápida e a letra nonsense são uma preparação excelente para o que vem a seguir.
Porrada  e Tô Cansado formam uma boa dupla, as duas tratando sobre a indignação. Enquanto a primeira tem um viés violento, “porrada nos caras que não fazem nada”, a segunda mostra o cansaço e a frustração de não conseguir mudar aquilo que indigna.
A faixa mais polêmica do álbum é sem dúvida nenhuma Bichos Escrotos. Ela é uma herança da época em que Paulo Miklos fazia parte de um grupo de teatro performático. A parte da oncinha pintada, coelhinho peludo e etc., tinha um verso adicional na época, vaquinha mococa. Era no momento em que Paulo recitava esses amáveis versos que um colega do teatro rasgava um saco de leite derramando todo seu conteúdo por cima do jovem Miklos. Por conta dos palavrões a música teve radiodifusão e execução pública proibidos pelos censores. Essa advertência vinha por escrito no encarte dos LPs e ainda está lá no encarte dos CDs, como lembrança de uma época negra em que um artista não podia falar o que bem entendesse. Ou então eles não quiseram pagar alguém pra reformular o encarte. Esse video que eu coloquei ali em cima mostra os Titãs tocando no programa do Chacrinha em 1988, após o final da censura.
A próxima música, Familia, acaba ficando bem inocente depois dos palavrões de Bichos Escrotos. A levadinha meio reggae é bem gostosa e é fácil imaginar todas as cenas que Nando Reis descreve na letra.


Encarte
Homem Primata fala sobre como os instintos animais sobrevivem à modernidade. Entre os versos cantados em inglês aparece a expressão Concrete Jungle, que imediatamente nos remete à música de mesmo nome dos Wailers, com Bob Marley a frente dos vocais (mas esse trecho em inglês não tem nada a ver com a letra da música). Essa referência foi enfatizada mais tarde, já que eles passaram a utilizar um acento reggae/ska na música que não constava na gravação original. Como exemplo disso basta ouvir o disco MTV ao vivo ou o Acústico.
Mas reggae mesmo é a faixa Dívidas. Ela tem um clima até meio praieiro. Lembra bastante algumas coisas da fase brega dos Titãs.
O Quê é a primeira experiência concretista lançada pelo grupo. Arnaldo Antunes, anos mais tarde em sua carreira solo exploraria os limites do concretismo em áudio. Essa faixa também marca o início das experimentações eletrônicas, que ficaram frequentes nos discos seguintes, atingindo seu auge no disco Õ Blésq Blom, de 1989.
 

Definitivamente, Cabeça Dinossauro é um disco conceitual. É fácil enxergá-lo como uma série de variações sobre o mesmo tema, que seria o relacionamento do homem com a sociedade em que vive.
Agora, nos resta esperar e rezar para que os boatos sobre a volta dos ex-integrantes para a turnê de comemoração dos trinta anos da banda, em 2012, sejam verdadeiros.
A notícia se confirmando eu vou no show, quando passarem aqui por Curitiba, e depois conto pra vocês como foi, ok?

 Os Titãs (na época deste disco, 1986):
Arnaldo Antunes - voz
Branco Mello - voz
Charles Gavin - bateria
Marcelo Fromer - guitarra
Nando Reis - baixo e voz
Paulo Miklos - voz
Sergio Britto - voz e teclados
Tony Belloto - guitarra

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